Por outro lado, a imagem do plano de fundo foi feita pela Curiosity Mars Science Laboratory em 08 de setembro de 2012 no 33º dia após o pouso na superfície de Marte observando-se o solo marciano como jamais foi visto. E também não é bobagem...
Image credit: NASA/JPL-Caltech/MSSS.

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sexta-feira, 24 de abril de 2009

A Complexidade do paciente expert

De médico e louco todo mundo tem um pouco.
Era de se esperar que os pacientes aos poucos tentassem se aproximar dos médicos nos seus conhecimentos. Apenas aguardava-se uma oportunidade, uma chance ou uma ferramenta, que finalmente apareceu.
O termo paciente expert começa a se tornar cada vez mais freqüente nas nossas relações e eu tenho dúvidas se isto é bom ou ruim, e é por isto que estou escrevendo.
A minha vida como médico começou quando ainda não existia o computador, e a relação médico-paciente não tinha nenhuma semelhança com o que assistimos hoje.
O advento da Internet, banda larga, inclusão digital, etc. fez com que os pacientes procurassem informações sobre as questões da saúde de forma simples, rápida e eficiente. A disponibilidade de dicionários on line e a Wikipédia vieram ajudar o entendimento daquilo que está sendo buscado.
Recentemente foi lançada a Medpedia, que é uma espécie de Wikipédia, voltada às questões médicas, porém com qualidade controlada.
A conseqüência deste fenômeno é que temos hoje pacientes cada vez mais esclarecidos e médicos cada vez mais mal formados. Não quero entrar no mérito da formação do médico porque não é o objetivo deste momento e mesmo porque o assunto é extenso, complexo e merece a atenção de outro post. A má qualidade da formação do médico associado aos hospitais que se tornaram um “negócio” trouxe como distorção a banalização do respeito e consideração do paciente já comentado quando escrevi sobre o paciente do 405.
A socialização rasteira da medicina no Brasil, e o conseqüente “culto à carteirinha”, descaracterizou a identidade e qualificação do profissional médico, para reduzi-lo ao Dr. Fulano, que os pacientes normalmente não sabem o nome, porém é o médico do convênio a que eles tem direito, muito perto da sua casa, etc. etc..e isto é tudo o que interessa.
A conseqüência imediata é que o paciente não conhece o seu médico e assim sendo sente-se mais confortável e estimulado em buscar informações antes ou após a sua consulta, para poder confrontar com aquilo que foi ou vai ser dito. E os pacientes não têm nenhum acanhamento em questionar os médicos com anotações tiradas do bolso.
O curso médico básico demora 6 anos, mais 3 de residência, especialização ou pós graduação, mais 1 ou 2 para conseguir ter um mínimo de experiência e confiança. Estes 10 anos é o tempo mínimo necessário para ter no mercado um profissional com uma qualificação adequada.
O paciente expert esta querendo transformar estes 10 anos em 10 minutos de pesquisa na internet ou no Google ou em qualquer mecanismo de busca.
Eu já escrevi sobre a questão de pacientes usando cada vez mais ferramentas do tipo Google, não só na sua ferramenta Health como também na Earth.
Além disso o paciente que tiver tempo e disciplina para pesquisar, poderá encontrar informações interessantes e até de boa qualidade, como por exemplo sites de Faculdades e Universidades conceituadas e outras nem tanto.
Se existir dúvida de como se faz uma pesquisa em biblioteca virtual e quiser uma aula, o caminho também está à disposição, e a imbatível Biblioteca Virtual de Saúde baseada na Biblioteca Regional de Medicina BIREME é um Centro Especializado da OPAS, estabelecido no Brasil desde 1967, em colaboração com Ministério de Saúde, Ministério da Educação, Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e Universidade Federal de São Paulo.
Mas se você for muito exigente ou esclarecido e achar que ainda é pouco, pode buscar informações da Medicina Baseada em Evidências.
Por tudo isto é uma temeridade o paciente se apresentar a consulta médica depois de ter feito uma busca minuciosa por estes meios relacionados, pois somente saberemos da qualidade da informação obtida pelo paciente, depois da confusão armada e além do que a informação obtida pode estar correta mas o paciente não tem o entendimento e o raciocínio médico necessários para compreender o "ato médico".
O suicídio ou a tentativa, que por si faz parte de um quadro clínico psiquiátrico, tem sido relatado em situações em que o paciente “consulta-se” pela internet, chega a conclusão que sua doença é grave ou incurável e acaba escolhendo a morte pela auto destruição numa tentativa de se livrar de uma situação de extrema aflição, para a qual acha que não há solução, o que normalmente não é verdade. Noticias como esta ou como esta existem centenas na Internet.
Até algum tempo acreditava se que o cirurgião estava a salvo de toda esta questão no que se refere ao ato cirúrgico propriamente dito, sofrendo a influencia do paciente expert somente até o diagnóstico, pois o paciente não seria capaz de discutir o ato cirúrgico em sí. Engano. O paciente expert descobre as varias técnicas utilizadas para o tratamento de um mesmo mal e passa a discutir como fazer, com o cirurgião que vai operá-lo. Não bastasse estas dificuldades o desenvolvimento dos robôs veio acrescentar um fato a mais em toda esta discussão, mas pelo menos esta é mais saudável, pois o paciente expert reconhece que os robôs conseguem fazer algo além do trabalho do cirurgião.
O paciente expert já mudou a relação medico paciente, em função da sua postura e de pensar que ele é bem informado, quando na verdade ele apenas é informado.
O estudo apresentado e premiado no X Congresso Brasileiro de Informática em Saúde dos Drs. Alexandre César Souza Hamam e Carlos José Reis de Campos, mostra de forma inequívoca quão baixa é a veracidade das informações médicas buscadas e achadas na internet. A leitura deste brilhante trabalho é fundamental para o convencimento da veracidade daquilo que aqui foi dito.
Pesquisadores da Fiocruz realizaram interessante estudo, que entretanto está mais focado na maneira de como o paciente se tornou expert do que a análise mais profunda do paciente que resolve se tornar expert, sem considerar que a qualidade dos estudos que são apresentados no Reino Unido, Holanda, Estados Unidos e Canadá, não são comparáveis aos aqui produzidos por um sem número de motivos. De qualquer forma este também é um material que precisa ser lido.
O assunto está aberto para discussão e com mais um tempero, pois estou sentindo um forte movimento e interesse de pessoas e grupos que trabalham com as mídias sociais, pois sem dúvida é um grande prato para eles, como para todos nós.
Vamos ao trabalho!