Por outro lado, a imagem do plano de fundo foi feita pela Curiosity Mars Science Laboratory em 08 de setembro de 2012 no 33º dia após o pouso na superfície de Marte observando-se o solo marciano como jamais foi visto. E também não é bobagem...
Image credit: NASA/JPL-Caltech/MSSS.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Medicina Diagnóstica – A especialidade que nunca existiu

As grandes cidades estão hoje repletas de locais das assim chamadas Unidades ou Centros de Medicina Diagnóstica.
Formado há bastante tempo, acumulo uma experiência significativa no exercício da medicina, o que me permite várias comparações na linha do tempo.
Assisti momentos de glória da medicina, momentos de fracasso, tratamentos revolucionários para algumas doenças ou situações especiais, que após alguns anos foram questionados e depois suspensos, medicamentos milagrosos que se tornaram indutores de outras doenças, enfim situações que nada mais são do que a própria evolução da Ciência Médica e cada momento teve sua explicação, sempre apoiada no bom senso e com o objetivo de servir ao paciente. Da mesma forma, nunca vi nenhuma tentativa consistente de modificar a semiologia médica.
Entretanto, esta nova especialidade que foi criada a “Medicina Diagnóstica” é um equívoco gigantesco.
Pessoalmente tive a oportunidade de questionar esta denominação, em duas ou três destas empresas, inclusive com a literatura em mãos, mas sem sucesso e por isso resolvi escrever.
O diagnóstico médico faz parte indissolúvel da consulta médica. Todos nós aprendemos na escola, na disciplina de Semiologia toda a composição da consulta médica: a queixa e duração, a história pregressa da moléstia atual, etc até chegarmos ao Diagnóstico ou Hipótese Diagnóstica. O paciente não deve levar ao consultório médico o diagnóstico, mas sim o sintoma, ou seja, ele tem dor de cabeça, frio, mal-estar, náuseas, vômitos e o diagnóstico poderá ser por exemplo Meningite.
O paciente não pode dizer que sente ou que tem Meningite, pois o diagnóstico é função do médico, a partir de sintomas e sinais, após exame físico elaborar um diagnóstico e sugerir um tratamento. A partir do diagnóstico o médico poderá lançar mão de exames complementares para confirmar ou não a sua suspeita, solicitando uma análise clínica, um exame de imagem, um exame endoscópico etc...Antigamente, cada um destes exames estava localizado em lugares fisicamente diferentes o que trazia desconforto ao paciente ter que ir a dois ou três lugares diferentes para fazer seus exames no laboratório, no instituto de imagem, no serviço de endoscopia etc...
Baseado neste conceito e necessidade foram criados os centros de apoio diagnóstico, que conseguem reunir num só lugar todas as necessidades do paciente. É evidente que esta união faz sentido em todos os aspectos não só na visão do paciente quanto do negócio em si, tanto que é fácil medir o seu sucesso.
O que causa estranheza é o nome inventado, especialmente porque as pessoas que o inventaram são médicos inteligentes e competentes. Imaginem a seguinte cena: um cidadão entra do FULANO DE TAL MEDICINA DIAGNÓSTICA e diz para a atendente:
“Eu gostaria de fazer exames para saber porque eu tenho dor de cabeça e febre todos os dias”
“Desculpe, mas o senhor deve procurar um médico”
“Mas aí na porta está escrito que vocês fazem Medicina Diagnóstica!”
“Sim, mas nós fazemos os exames que o seu médico pedir”
“Ah! Então agora ficou claro, vocês auxiliam o meu médico a fazer o diagnóstico”
“Exatamente, é isto mesmo”
“Então desculpe, o erro está no nome que vocês puseram aí fora, vocês deveriam se chamar”:
FULANO DE TAL AUXÍLIO AO DIAGNÓSTICO, ou.
FULANO DE TAL APOIO AO DIAGNÓSTICO, ou
FULANO DE TAL COMPLEMENTAÇÃO AO DIAGNÓSTICO, ou enfim qualquer coisa menos
MEDICINA DIAGNÓSTICA.
O único detalhe é que o FULANO DE TAL na verdade é um nome consagrado na medicina e como tal se acha no direito de exercer uma Medicina que não existe, nunca existiu e nunca existirá.
Casualmente ontem, feriado na cidade de São Paulo, andando por aí passei por uma destas Unidades e me chamou atenção uma placa novinha onde estava escrito:
FULANO DE TAL MEDICINA E SAÚDE.
Talvez seja o início do fim.
Parabéns.

6 comentários:

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Leonardo,
Achei fantástico o seu post.
Ainda ontem estava pensando nessa questão de diagnóstico médico, e não pude deixar de sentir saudade de um tempo em que, os apoios ao diagnóstico eram em pequeno número e, talvez por isso mesmo, os médicos conseguiam fazer diagnósticos. Hoje, de um modo geral, as consultas são rápidas, porque primeiro é necessário fazer os exames, para daí pensar-se nos sintomas.
Parabéns pela sua posição.

Leonardo Diamante disse...

Olá Heloisa,
Obrigado pela visita.
Tenho visto os seus (são muitos) e assim que der um tempinho deixo um palpite naquele de fotos. Venha sempre e não deixe de clicar ao lado no "Aprenda a desenhar", tenho certeza que vai gostar.
Até mais.

Anônimo disse...

Olá Dr.
Amei esta postagem.
Dia 15 de Julho perdi minha irmão ( adotiva/agregada ), que amo muito, por causa destes ditos profissionais.
Pouco antes ela procurou alguns médicos, "especialistas em medicina diagnóstica", por sugestão de uma amiga e estes não conseguiram identificar o cancêr que a mataria 26 meses depois.
No hospital ( público ), que a internou depois da descoberta do cancer, disseram a família, que se encontrado a tempo, ela teria chances de cura.
Nada podemos fazer, a não ser assistirmos sua morte lenta e dolorosa.
Fico satisfeita com profissionais que tem coragem de dar nomes e fisionomia a estes charlatões.
Parabéns.
Betina

Anônimo disse...

Olá Elisabeth,
Obrigado pela visita.
Pois é, estas coisas são assim mesmo e na medicina cada caso é um caso...
Um abraço
Leonardo

Anônimo disse...

Ola doutor.
Meu nome é Gabriel, tenho 14 anos.e.estou comecando a procurar com o que quero trabalhar.
Ouvi falar que existia uma.formacao somente para dar.diagnosticos e tratalos.
fiquei muito interessado.
Gostaria.de saber se realmente existe isso ou algo nesse caminho.

PS: desculpe a forma de escrever e desculpe se pareci muito idiota

Carla disse...

Olá, muito bom dia.
Foi com grande alegria que li o seu post. O sonho de minha vida é tornar_me médica. Clínica geral e somente isto. Pelo fato de que tenho paixão avassaladora pelo diagnóstico, pura e simplesmente. Hoje fui à uma triste consulta em que ninguém sabe o que tenho e nem sabem que exames pedir. Uma consulta de 3 minutos, em que todas as minhas falas foram cortadas. Fico pensando se os médicos de hoje sabem adivinhação. Não seria a consulta clínica a parte mais importante de todas? Como pedir exames se não se sabe ao certo nem o que o paciente sente ou se subestima os sintomas? Sim, porque as vezes, certos profissionais parecem pensar que todos os pacientes são mentirosos costumazes e estão ali para chamar a atenção. Não tem nada pra fazer, talvez. Enfim, tristeza, tristeza, tristeza. Sigo sem diagnóstico torcendo para que remédios genéricos e anticorpos façam seu trabalho. Brilhante seu texto.