Aproveitando-se do excesso de profissionais médicos concentrados em capitais e grandes centros, as operadoras de saúde estão reduzindo os valores dos honorários médicos a tal ponto que fechar as portas dos consultórios e buscar alternativas de trabalho têm sido a única saída para muitos médicos.
Mas este é um problema que não apareceu agora e vem se estabelecendo aos poucos e há muito tempo, como um movimento premeditado, e com objetivos muito claros. inclusive colocando os médicos em conflito com o recém aprovado Código de Ética Médica.
Eu pessoalmente deixei de atender os convênios no Hospital Samaritano de São Paulo (que é acreditado pela Joint Commission International) quando recebi oito reais por uma consulta. Aliás, como no caso em questão tratava-se de um convênio que passava por sérias dificuldades, o valor estipulado foi dividido em quatro parcelas, o que significa dizer que recebi durante quatro meses pagamentos de dois reais, com desconto de 2% de comissão para a Associação Médica do Hospital Samaritano e na época também da CPMF.
Na época, declarei publicamente minha insatisfação declinando do serviço oferecido, denunciei, protestei, clamei, bradei, mas ninguém me ouviu, nem o hospital, nem a Associação dos médicos (que ironicamente existe para tratar dos interesses dos médicos do e no hospital) nem mesmo as entidades de classe, que sempre estão discutindo o assunto, porém sem qualquer resultado prático.
Achei que tínhamos atingido o fundo do poço. Agora vejo que o poço é ainda mais fundo e talvez o estejamos enxergando ainda um fundo falso e poderemos nos afundar um pouco mais.
Mas estes cinco reais agora denunciados, na verdade talvez não estejam tão fora da realidade de remuneração do médico nos dias atuais.
Senão vejamos: o padrão de atendimento preconizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) equivale a 16 consultas/médico, por período de 4 horas. Portanto um médico trabalhando em seu consultório, por período de 4 horas receberá R$ 80,00/dia, que multiplicado por 22 dias úteis corresponde a R$ 1.760,00 por mês, que é praticamente igual ao valor pago a um médico trabalhando 4 horas por dia, no serviço público ou em uma empresa de medicina de grupo. Evidente que sobre este valor recebido em seu consultório incidirão tributos e despesas de manutenção que irão comprometer algo em torno de 40% dos R$ 1.760,00.
É difícil para quem viveu a época do médico profissional liberal, aceitar esta condição de médico operário, que interrompe em passeata a Avenida Paulista para reivindicar aquilo que acha justo, usando da maneira mais inadequada possível, para chamar a atenção das nossas autoridades, criando mais problemas para as pessoas que estão se locomovendo, muitas delas em busca de um médico ou um hospital da região.
Todos estes movimentos nunca levaram e não levarão os médicos a lugar algum.
Nunca vou me esquecer de um dos inúmeros movimentos grevistas do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, em uma audiência com o então governador de São Paulo Sr. Paulo Salim Maluf, foi lhe transmitida a preocupação que se “não atendidas as reivindicações dos médicos, o hospital poderia sofrer por uma demissão coletiva”. Imediatamente o governador retrucou “que me avisem imediatamente, pois em 24 horas eu descarrego de caminhão quantos médicos forem necessários, pois eu conheço muito bem esta turminha e médico procurando emprego, tem em qualquer esquina”.
Evidente que o governador em questão não é uma referencia de padrão, mas o seu pensamento está absolutamente de acordo com o pensamento dos nossos dirigentes, salvo raríssimas exceções, que infelizmente não têm penetração na discussão do âmago da questão.
Triste ter que admitir que o próprio médico tenha responsabilidade por termos chegado a este ponto e a grave exploração do trabalho médico praticada atualmente, inviabilizou a medicina como atividade liberal.
A denúncia em questão está sendo feita por uma destas entidades, que em tempos idos foi legítima representante dos interesses dos médicos, congregando em torno de si todos os grandes nomes da Medicina Paulista desde 1930. Hoje tem um quadro associativo com algo em torno de um terço dos médicos atuantes no estado de São Paulo, e está mais para um clube do que uma verdadeira associação que deveria zelar pela defesa do exercício da profissão médica. Vamos ver o que vai acontecer.
Não pensem que escrevi estas linhas com alegria. Foi difícil, doloroso, quase inacreditável, parecendo uma história mentirosa ou de ficção, gostaria que alguém me convencesse que estou enganado, mas é assim que sinto.
Pobre dos médicos.
Neste espaço você vai encontrar questões que de alguma forma originaram o próprio nome do Blog e estaremos abordando as questões da Saúde e da Tecnologia da Informação, ou a mistura das duas, enunciadas como textos e imagens. Esta imagem panorâmica foi capturada pela sonda Phoenix Mars Lander em 10 de Junho de 2008 no 16º dia após o pouso na superfície de Marte e em primeiro plano vemos seus painéis solares e o braço robótico. Credit:NASA/JPL/University of Arizona,Tucson. E não é bobagem...
Por outro lado, a imagem do plano de fundo foi feita pela Curiosity Mars Science Laboratory em 08 de setembro de 2012 no 33º dia após o pouso na superfície de Marte observando-se o solo marciano como jamais foi visto. E também não é bobagem...
Image credit: NASA/JPL-Caltech/MSSS.
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quarta-feira, 21 de julho de 2010
Imagem da semana
Capa da Revista da Associação Paulista de Medicina deste mes de julho
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