Por outro lado, a imagem do plano de fundo foi feita pela Curiosity Mars Science Laboratory em 08 de setembro de 2012 no 33º dia após o pouso na superfície de Marte observando-se o solo marciano como jamais foi visto. E também não é bobagem...
Image credit: NASA/JPL-Caltech/MSSS.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Chocolate: verdades, mitos e crendices

O chocolate é resultante da elaboração da fava do cacaueiro, que tem caroço e polpa. A composição do chocolate pode ter cacau, manteiga de cacau, leite, açúcar e outros elementos que podem ser acrescidos como passas, amendoim, avelãs, amêndoas etc.
O cacau contém substâncias chamadas fenóis ou flavonóides, os mesmos antioxidantes encontrados no vinho tinto. Estudos feitos na Universidade da Pensilvânia, mostram que consumidores diários de 30 a 50g de chocolate com alta concentração de cacau (56 a 85%, ou seja, chocolate amargo ou extra amargo) apresentam menores índices no sangue do chamado mau colesterol (fração LDL). No cérebro, o chocolate eleva os níveis de serotonina e feniletilamina melhorando o ânimo e disposição geral. O chocolate é uma boa fonte de energia e com alto nível calórico, dependendo da proporção da manteiga de cacau, açúcar ou leite. Cada 100g pode conter de 350 a 500 calorias e é aí que está o problema.
Algumas das crendices negativas do consumo de chocolate é com relação ao aparecimento de acne, pedras no rim, dores de cabeça, alergias, cárie dentária e tensão pré-menstrual. Estas evidências científicas da relação direta do consumo e esses problemas são fracas.
A cultura popular, com baixa constatação científica, considera o chocolate um afrodisíaco.por estarem geralmente associadas ao simples prazer sensual de seu consumo. Além do mais, a natureza doce e gordurosa do chocolate estimula o hipotálamo, induzindo sensações prazeirosas e elevando o nível de serotonina. Apesar de a serotonina ter efeitos prazeirosos, em excesso pode ser convertida em melatonina, que, por sua vez, reduz a libido. Além disso o chocolate tem substâncias que podem ativar receptores canabinóides, o que causa sensações de sensibilidade e euforia.
Na verdade, hábitos de vida pouco saudáveis como alimentação rica em gordura animal (colesterol), gorduras saturadas e gordura trans, sedentarismo, diabetes, obesidade abdominal, hipertensão arterial, etc. são os mais importantes fatores de risco para as doenças cardiovasculares.
Entretanro não se questiona o valor nutritivo do chocolate, pois contém proteínas, gorduras, cálcio, magnésio, ferro, zinco, caroteno, vitaminas E, B1, B2, B3, B6, B12 e C. ácido gálico, epicatecina, e flavonóides com função cardioprotetora.
O consumo moderado de chocolate hoje é aceitável, e recomendável até 30 g por dia, de preferência preto e amargo compondo uma alimentação balanceada em calorias e nutrientes. Apesar dos benefícios descritos e do sabor muito agradável, ultrapassar os limites acaba por elevar a quantidade diária de calorias. Além disso, não é recomendável trocar as frutas e vegetais de uma refeição pelo chocolate.
Portanto não devemos ir aos extremos da proibição nem da liberação do uso do chocolate, e você pode usufruir de maneira positiva dos benefícios que ele pode lhe trazer, porém, temos que ter em mente que muitas verdades científicas de hoje podem mudar amanhã.
O chocolate é um alimento apreciado, pela imensa maioria das pessoas em todo o mundo, umas mais outras menos, mas todas acabam consumindo o chocolate. Por isto mesmo o chocolate é consumido de todas as formas possíveis e imagináveis como sólido, líquido, pastoso, quente, frio, gelado, com outros doces, com salgados, com frutas, amargo, branco escuro, mesclado, tabletes, barras, gotas, raspas enfim o chocolate vai até onde a imaginação permitir.
O chocolate é um dos "presentes" mais populares em festividades como dia dos Namorados, Natal e aniversários. Na Páscoa, ovos de chocolate são presentes populares e obrigatórios para as crianças.
Por todas estas caracteristicas e simbologias os Correios da França lançaram selos com aroma de chocolate, em mais uma iniciativa para tentar conter a queda no volume de cartas enviadas, em virtude da popularização do e-mail e de outros meios de comunicação na internet.
Segundo a assessoria, essas iniciativas se inserem em um plano de modernização de produtos, com o objetivo de se aproximar mais dos hábitos dos franceses, ao tentar atrair os internautas e permitir a utilização do novo selo com sabor chocolate, vendido em todas as agências dos correios da França, é mais uma estratégia para atrair clientes. Além de enviar uma carta que terá um leve perfume de chocolate, a pessoa que colar o selo também sentirá o sabor do produto.

Os selos lançados, com dez imagens diferentes, retraçam a história do chocolate, a partir das favas de cacau originárias da América Central e da Amazônia à introdução do chocolate na corte do rei Charles V, no século XVI.
As imagens dos selos contam ainda que o chocolate era muito apreciado pelos reis franceses no Palácio de Versalhes e que o produto, durante muito tempo consumido apenas pelas pessoas ricas, se tornou popular no século XXIX, com o surgimento da indústria do chocolate.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Dificuldades de uso de PEP/RES no mundo

Projetos de PEP/RES em larga escala prometem muito, mas “entregam” pouco, de acordo com novo estudo da University College of London, após avaliarem várias publicações sobre o tema em todo o mundo. Eles descobriram que 50 a 80% dos projetos de RES falham, e quanto maior o projeto, maior a probabilidade de falhar a implementação. Quatro grandes observações foram concluídas pelo estudo:
1) RES podem prejudicar o trabalho clinico, embora sejam bons para a auditoria e o faturamento;
2) Registros em papel podem ser mais eficientes e flexíveis que computadores;
3) RES menores e localizados funcionam melhor;
4) Integração entre RES grandes jamais acontecerá de forma automática.
Os autores sugerem novas abordagens à implementação de RES que contemplem a variabilidade e flexibilidade exigidas pelo mundo real.
Em artigo intitulado "Porque ferramentas baratas e fáceis de usar em saúde conectada deveriam preceder os RES", o médico e fundador do Center for Connected Health, Joseph C. Kvedar, argumenta que começar a informatização da saúde pelos RES é admirável, mas terrivelmente ineficiente.
Além de ser muito caro e de difícil implementação, não vai atingir a maioria dos médicos que têm consultórios pequenos, e não existem evidências suficientes de que a sua ampla adoção melhore a qualidade da atenção médica ou diminua os custos. Então, é preciso procurar novas ferramentas via Internet e especialmente telefone ou smartfones, que aumentem a qualidade da atenção, e essas são ferramentas simples, que permitem, por exemplo, monitoração freqüente de níveis de pressão arterial e glicemia em pacientes hipertensos e diabéticos.
Muitos outros softwares simples conectados darão aos médicos uma alternativa mais simples, barata e fácil de usar do que os complexos registros médicos eletrônicos. Futuramente, esses dados enviados pelos pacientes deverão ser integrados ao RES.
Um outro levantamento publicado em março de 2009 na revista New England Journal of Medicine mostrou que apenas 1,5% dos hospitais americanos possuíam um sistema abrangente de Registro Eletrônico de Saúde (RES), ou seja, presente em todas as unidades clínicas, e que 7.6% adicionais possuíam um sistema mais simples (pelo menos em uma unidade).
Apenas 17% dos hospitais tinham prescrições eletrônicas, incluindo pedidos de exames, etc. As principais barreiras citadas foram altos custos de implementação e manutenção (76% e 44% das respostas, respectivamente), resistência dos médicos (36%), incertezas no ROI (32%) e falta de pessoal treinado em TI (30%) . Os autores sugerem estratégias baseadas em interoperabilidade, financiamento e treinamento da equipe de suporte, para aumentar o baixo uso de RES em hospitais americanos.
Pesquisa feita pela Deloitte junto aos consumidores na área de saúde dos EUA indica que apenas 9% possuem um registro eletrônico pessoal, mas 42% estão interessados em ter um e conectar-se on-line com seus médicos. 57% estão interessados em agendamento e prescrições on-line. Além disso, o levantamento determinou que 60% dos consumidores apóiam o estabelecimento de padrões de intercâmbio e armazenamento das informações médicas pelo governo, 42% favorecem o aumento de financiamento ao programa de incentivo de adoção de RES pelos médicos, hospitais e planos de saúde.
Por outro lado 63% estão interessados em equipamentos de monitoração doméstica de saúde.sendo que este interesse é particularmente alto entre idosos (78%) e portadores de doenças crônicas (75%).
Tudo isto não significa que o médico está alheio a necessidade de estar conectado, pois a necessidade de estar informado e com as informações mais recentes de seus pacientes é a prioridade, usando ferramentas simples, rápidas, baixo custo e sem necessidade de horas de treinamento.
Vejam estes tres exemplos.
Estudo feito em 2008 com 1832 médicos americanos mostrou que 60% deles participam de comunidades médicas virtuais, como a conhecida MedScape, do grupo WebMD, que tem 100.000 assinantes. Clínicos gerais jovens, de sexo feminino, que usam um PDA ou smartphone são os que mais participam, e geralmente entram on-line nos intervalos entre consultas. Seguramente estes dados em 2009 já devem ser totalmente diferentes, com inclusão das novas mídias sociais.
Segundo Health Care IT News dois terços dos médicos americanos possuem um smartphone, e a maioria os utiliza durante o atendimento médico, de 15 a 20 vezes por dia. A previsão do instituto de pesquisa de mercado é que a taxa de adoção subirá para 81% até 2012, quando se espera que todos os médicos utilizarão smartphones ao lado do estetoscópio.
O telefone celular pode ser uma arma importante para acelerar o diagnóstico de doenças graves. É o que mostra um estudo divulgado no final deo ano de 2009 pela Radiological Society of North America (RSNA) durante o seu congresso anual. Segundo a publicação, os profissionais da área puderam diagnosticar casos graves de apendicite aguda, mesmo estando a centenas de quilômetros de um hospital, com o uso de um handheld ou smartphone equipado com o software OsiriX Mobile.
A University of Virginia, , realizou exames de tomografia computadorizada, em 25 pacientes com dores abdominais, cujos dados criptografados foram submetidos a cinco especialistas que usaram IPhones 3GS com o software de visualização instalado e 99% dos casos foram identificados corretamente, num universo de 75 interpretações.
Se um radiologista não está disponível para interpretar a tomografia, o diagnóstico é postergado, o que aumenta os riscos para o paciente. Nesse ponto, o envio para o celular do médico acelera o processo, pois ele recebe o arquivo com qualidade pelo telefone.
Uma decisão crítica que poderia ajudar em todas estas questões é
a adoção de padrões para a comunicação, proteção e recuperação de dados, representação de conceitos, terminologias e armazenamento, sendo que este foi um fator essencial para o sucesso das iniciativas de Telemedicina e Telessaúde.
Portanto, se contarmos com padrões tecnológicos, operacionais e clínicos adequados, poderemos garantir que sistemas de diferentes fabricantes, construídos por diferentes grupos do País, consigam trocar informação de maneira efetiva, garantindo operação integrada e, ainda, a privacidade e o sigilo dos dados.
Nesse sentido, foram criados fóruns nacionais e internacionais como a ABNT/Comissão de Estudos Especiais de Informática em Saúde e a ISO TC 215.
A interoperabilidade é decisiva no desenvolvimento de sistemas eficientes e competentes na área da saúde, ressaltando igualmente a capacidade dos componentes desses sistemas serem substituíveis. Não se discute que um software deva ser interoperável e seguro, bem como deva proteger a privacidade do paciente.
Entretanto estas qualidades não são suficientes para produzir um sistema de boa qualidade. Fluidez dos dados, adoção de padrões abertos e plataformas que suportem diversas aplicações são características essenciais para a correta aplicação dos recursos financeiros aplicados em tecnologia da informação em saúde.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Café: verdades, mitos e crendices

Um estudo publicado no The American Journal of Cardiology associa o consumo de café a um menor risco de morte por doença cardíaca coronariana e menores chances de desenvolver doença cardíaca valvar.
De acordo com os pesquisadores, os resultados se alinham com um recente estudo epidemiológico que sugere forte efeito protetor da bebida em idosos sem hipertensão.
Os resultados indicaram que o consumo de café reduziu em 43% os riscos de morte por doença cardíaca coronariana. E, segundo os pesquisadores, essa redução nos riscos parecia ser causada pela relação inversa entre o consumo de cafeína e o desenvolvimento ou progressão de doença cardíaca valvar.
É sempre importante lembrar, porém, que o consumo de café em excesso é associado diversos problemas, como os gastrointestinais. E alguns estudos indicam que o excesso pode ter o efeito contrário ao apresentado pela pesquisa, podendo aumentar a pressão e, conseqüentemente, o risco cardíaco.
O café não é remédio, mas a comunidade médica-científica já considera a planta como funcional (previne doenças mantendo a saúde) ou mesmo nutracêutica (nutricional e farmacêutico). Isso porque o café não possui apenas cafeína, mas também potássio, zinco, ferro, magnésio e diversos outros minerais, embora em pequenas quantidades. O grão do café também possui aminoácidos, proteínas, lipídeos, além de açúcares e polissacarídeos. Mas, o principal segredo: possui uma enorme quantidade de polifenóis antioxidantes, chamados ácidos clorogênicos. Durante a torra do café, esses ácidos clorogênicos formam novos compostos bioativos: os quinídeos. É nessa etapa também que as proteínas, aminoácidos, lipídeos e açúcares formam os quase mil compostos voláteis responsáveis pelo aroma característico do café. É toda essa composição que faz do café uma bebida natural e saudável.
Esta é a opinião do Prof. Dr. Darcy Roberto Lima Ph.D em Medicina pela Universidade de Londres, médico, escritor e professor do Instituto de Neurologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Diretor Associado de Pesquisas, ICS, Vanderbilt University, TN, USA, dedica-se a pesquisar os efeitos do café na saúde humana há mais de 20 anos.
A Associação Brasileira da Indústria do Café também fornece informações e artigos bastante interessantes sobre o café.
O instituto do Coração de São Paulo também criou a Unidade Café e Coração do InCor do HC FMUSP sob a responsabilidade do Prof. Dr. Luis Machado Cesar, que também vale a pena dar uma olhada.
De qualquer forma após a leitura destes artigos e tantos outros disponíveis vamos chegar à conclusão que o café, se tomado de forma moderada é um alimento precioso e contribui para um bom estado de saúde.
Em tempos de sustentabilidade, conservação do planeta, aquecimento global, etc. gostaria de deixar para reflexão, recente artigo veiculado pela imprensa leiga, que dá conta que uma empresa de Taiwan conseguiu transformar o resto do pó de café, que nos chamamos de "borra"e fica depositado no filtro, em tecidos e portanto em roupas.
A novidade é da Singtex Industrial Co e pode ser vista clicando aqui e chama-se S.Cafe.
A fórmula para produção era pesquisada há, pelo menos, quatro anos, por três cientistas e pelo diretor geral do grupo, Jansen Chen, que teve a idéia de fazer o tecido enquanto fazia uma "pausa para o café".
Chen afirmou em coletiva de imprensa que uma xícara de café pode ser transformada em duas camisetas.
Patenteado em Taiwan, Estados Unidos, Japão e China, o S.Café teria ainda outras vantagens, além de ser ecologicamente correto, ele secaria mais rápido, ofereceria proteção contra raios UV e controle de odores, de acordo com a nota do fabricante.
Mensalmente, a Singtex coleta cerca e 300 a 400 quilos de pó usado de café da rede Starbucks para transformá-los em tecido.
Não é o primeiro material inusitado usado pela empresa. A Singtex fabrica roupas a partir de garrafas pet e coco.
Tecnologia pura do século XXI, e o assunto pode gerar Controvérsias, Dúvidas, mas seguramente não é Bobagem.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Imagem da semana

Crystalline

Macro fotografia de cristais de cloreto de sódio, contidos em uma bolha de água, dentro de um “loop” de 50 mm de metal, em experimento no laboratório Destiny a bordo da Estação Espacial Internacional, fotografada pela tripulação da Expedition 6 .

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Médico, operário do século XXI

Algumas vezes tentei escrever sobre a decadência ou o desaparecimento do médico como profissional liberal. Desde a década de 80 que o médico assumiu a condição de “operário da saúde”, ficando a mercê do interesse do capital no que diz respeito à remuneração pelo seu trabalho. Aos poucos ele foi assumindo este novo status, até que finalmente se acomodou e se acostumou com esta nova situação. As entidades de classe são inoperantes, pois muitos dos seus dirigentes estão preocupados com suas carreiras dentro da vida política municipal, estadual e federal e estão se esquecendo de suas obrigações primeiras com seus pares por quem foram eleitos, para se dedicar as necessidades do médico e da medicina.
Às vezes em momentos de indignação, o médico convocado por entidades de classe, resolve fazer uma passeata (e interditar a Av. Paulista) reivindicando aumento da sua consulta de trinta e poucos para quarenta e dois reais. Ora, isto tudo sempre me pareceu tão ridículo que todas as vezes que tentei escrever sobre o assunto, uma dose de indignação sempre comprometeu a coerência e a lucidez da pretensa escrita. Então desisti.
Poucas vezes encontrei relatos com tamanha semelhança ao meu pensamento com relação a questão em pauta. O Dr. Drauzio Varella, mostra o lado cruel e muito sensível no texto que publicou no seu blog “Médicos versus planos de saúde" , que é, como eu penso, um dedo numa ferida aberta, desde quando se enfrentam os médicos contra as fontes pagadoras e infelizmente até mesmo instituições de saúde consideradas tradicionais o que reproduz o conflito entre a necessidade e a vontade. Com a licença do Drauzio, seguem aí as palavras que ele juntou, num brilhante texto, para falar um pouco do seu sentimento:
“Médicos que vivem da clínica particular são aves raríssimas. Mais de 97% prestam serviços aos planos de saúde e recebem de R$ 8 a R$ 32 por consulta. Em média, R$ 20. Os responsáveis pelos planos de saúde alegam que os avanços tecnológicos encarecem a assistência médica de tal forma que fica impossível aumentar a remuneração sem repassar os custos para os usuários já sobrecarregados. Os sindicatos e os conselhos de medicina desconfiam seriamente de tal justificativa, uma vez que as empresas não lhes permitem acesso às planilhas de custos.Tempos atrás, a Fipe realizou um levantamento do custo de um consultório-padrão, alugado por R$ 750 num prédio cujo condomínio custasse apenas R$ 150 e que pagasse os seguintes salários: R$ 650 à atendente, R$ 600 a uma auxiliar de enfermagem, R$ 275 à faxineira e R$ 224 ao contador. Somados os encargos sociais (correspondentes a 65% dos salários), os benefícios, as contas de luz, água, gás e telefone, impostos e taxas da prefeitura, gastos com a conservação do imóvel, material de consumo, custos operacionais e aqueles necessários para a realização da atividade profissional, esse consultório-padrão exigiria R$ 5.179,62 por mês para sua manutenção.Voltemos às consultas, razão de existirem os consultórios médicos. Em princípio, cada consulta pode gerar de zero a um ou mais retornos para trazer os resultados dos exames pedidos. Os técnicos calculam que 50% a 60% das consultas médicas geram retornos pelos quais os convênios e planos de saúde não desembolsam um centavo sequer. Façamos a conta: a R$ 20 em média por consulta, para cobrir os R$ 5.179,62 é preciso atender 258 pessoas por mês. Como cerca de metade delas retorna com os resultados, serão necessários: 258 + 129 = 387 atendimentos mensais unicamente para cobrir as despesas obrigatórias. Como o número médio de dias úteis é de 21,5 por mês, entre consultas e retornos deverão ser atendidas 18 pessoas por dia!Se ele pretender ganhar R$ 5.000 por mês (dos quais serão descontados R$ 1.402 de impostos) para compensar os seis anos de curso universitário em tempo integral pago pela maioria que não tem acesso às universidades públicas, os quatro anos de residência e a necessidade de atualização permanente, precisará atender 36 clientes todos os dias, de segunda a sexta-feira. Ou seja, a média de 4,5 por hora, num dia de oito horas ininterruptas.Por isso, os usuários dos planos de saúde se queixam: "Os médicos não examinam mais a gente"; "O médico nem olhou a minha cara, ficou de cabeça baixa preenchendo o pedido de exames enquanto eu falava”; "Minha consulta durou cinco minutos". É possível exercer a profissão com competência nessa velocidade? Com a experiência de quem atende doentes há quase 40 anos, posso garantir-lhes que não é. O bom exercício da medicina exige, além do exame físico cuidadoso, observação acurada, atenção à história da moléstia, à descrição dos sintomas, aos fatores de melhora e piora, uma análise, ainda que sumária, das condições de vida e da personalidade do paciente. Levando em conta, ainda, que os seres humanos costumam ser pouco objetivos ao relatar seus males, cabe ao profissional orientá-los a fazê-lo com mais precisão para não omitir detalhes fundamentais. A probabilidade de cometer erros graves aumenta perigosamente quando avaliamos quadros clínicos complexos entre dez e 15 minutos.O que os empresários dos planos de saúde parecem não enxergar é que, embora consigam mão-de-obra barata - graças à proliferação de faculdades de medicina que privilegiou números em detrimento da qualidade -, acabam perdendo dinheiro ao pagar honorários tão insignificantes: médicos que não dispõem de tempo a "perder" com as queixas e o exame físico dos pacientes, pedem exames desnecessários. Tossiu? Raios X de tórax. O resultado veio normal? Tomografia computadorizada. É mais rápido do que considerar as características do quadro, dar explicações detalhadas e observar a evolução. E tem boa chance de deixar o doente com a impressão de que está sendo cuidado. A economia no preço da consulta resulta em contas astronômicas pagas aos hospitais, onde vão parar os pacientes por falta de diagnóstico precoce, aos laboratórios e serviços de radiologia, cujas redes se expandem a olhos vistos pelas cidades brasileiras. Por essa razão, os concursos para residência de especialidades que realizam procedimentos e exames subsidiários estão cada vez mais concorridos, enquanto os de clínica e cirurgia são desprestigiados.Aos médicos, que atendem a troco de tão pouco, só resta a alternativa de explicar à população que é tarefa impossível trabalhar nessas condições e edir descredenciamento em massa dos planos que oferecem remuneração vil. É mais respeitoso com a medicina procurar outros meios de ganhar a vida do que universalizar o cinismo injustificável do "eles fingem que pagam, a gente finge que atende". O usuário, ao contratar um plano de saúde, deve sempre perguntar quanto receberão por consulta os profissionais cujos nomes constam da lista de conveniados. Longe de mim desmerecer qualquer tipo de trabalho, mas eu teria medo de ser atendido por um médico que vai receber bem menos do que um encanador cobra para desentupir o banheiro da minha casa. Sinceramente”.