Estava pensando escrever algo sobre a escolha do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016, mas com muita dificuldade, pois o assunto é longo, complexo, com várias facetas, acabei desistindo pois faltava inspiração, apesar de ter vontade de deixar uma demonstração dos meus sentimentos. Naquele momento era impossível.
No dia seguinte fui ler o jornal da véspera, e o assunto que dominava a edição era sobre os Jogos Olímpicos. Foi aí que eu encontrei o editorial de Rui Nogueira, que em poucas linhas sintetizou tudo aquilo que eu sequer conseguia começar a escrever.
Por estar absolutamente de acordo com todas as palavras, expressões, frases e sentimentos, resolvi transcrever este brilhante texto que é dele, porém por mim adotado, e se tivesse esta capacidade teria junto com ele assinado.
O presidente e o seu “nunca antes neste país”
O governador, o prefeito, os especialistas, os ricos, os "humildes" e os erros da candidatura de Brasília (em 2000) podem ter trabalhado muito a favor do Rio de Janeiro, mas a conquista da Olimpíada de 2016 para a cidade e para o Brasil tem um grande credor: o presidente Luiz lnácio Lula da Silva, "o cara".
Mesmo admitindo-se que a contabilidade dos seus feitos políticos, econômicos e diplomáticos está sempre superfaturada, o Rio, indiscutivelmente, ganhou o direito de organizar e celebrar a Olimpíada de 2016 no rastro do "efeito Lula" no cenário internacional.
A presença em Copenhague e o discurso de apresentação da candidatura diante do Comitê Olímpico Internacional (COI) configuram um fenômeno político. Esse foi, talvez, o melhor discurso do presidente Lula, recheado de palavras precisas e destinadas a dar forma e poder de persuasão àquilo que o comitê organizador brasileiro se propôs a dizer.
Ontem, o presidente provou que no improviso ele só é engraçado, quase galhofeiro. Treinado e contido, mas sem perder a espontaneidade que marcaram o metalúrgico eleito para o Palácio do Planalto, ele mostrou que é convincente.
As palavras eram solenes, mas ele foi um pedinte altivo e apaixonado. Para uma platéia de gringos a convencer e de olho nos concorrentes a superar, o redator misturou - bem ao gosto do presidente Lula - a classe média "das areias de Copacabana" e das "vitrines das lojas de São Paulo" com a população mais pobre dos "pequenos televisores às margens da Amazônia".
A estratégica referência à Amazônia foi apenas a primeira de uma série de ícones bem contornados e bem usados: "paixão pela vida", "paixão pelo esporte", "povo misturado", "calor do povo" e "sol da nossa alegria".
Assim, soltas, as expressões parecem formar um polvilho de demagogias.
Assim, soltas, as expressões parecem formar um polvilho de demagogias.
Seguindo o script traçado para a ocasião, porém, Lula usou esses degraus para escalar um silogismo cheio de premissas a anteceder a conclusão com o pedido: a hora é dos países emergentes, a América do Sul nunca teve uma Olimpíada, "vivemos num clima de liberdade e democracia", 30 milhões de brasileiros saíram da pobreza, 21 milhões de brasileiros passaram a integrar a classe média, a economia está organizada, o Brasil saiu bem da crise financeira mundial, o País está entre as maiores economias do mundo e "nunca tivemos a honra" de sediar a Olimpíada.
Sem chamar de erro as escolhas feitas até agora, Lula pediu a "correção do desequilíbrio".
Lembrou que para os concorrentes do Rio a disputa era por "mais uma" Olimpíada, enquanto para o Brasil era "uma oportunidade sem igual".
E foi assim que lula, finalmente, ganhou por inteiro o direito de dizer que "nunca antes neste País" um governo havia conquistado o que ele conquistou.
RUI NOGUEIRA
O ESTADO DE SÃO PAULO
CHEFE DA SUCURSAL BRASÍLIA
sábado, 3 de outubro de 2009, ano 130 nº 42354 Caderno especial H2.
O ESTADO DE SÃO PAULO
CHEFE DA SUCURSAL BRASÍLIA
sábado, 3 de outubro de 2009, ano 130 nº 42354 Caderno especial H2.
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