Por outro lado, a imagem do plano de fundo foi feita pela Curiosity Mars Science Laboratory em 08 de setembro de 2012 no 33º dia após o pouso na superfície de Marte observando-se o solo marciano como jamais foi visto. E também não é bobagem...
Image credit: NASA/JPL-Caltech/MSSS.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O Estadão, Rui Nogueira e eu

A proposta deste espaço é abordar as questões da saúde, da tecnologia e a mistura das duas. Os Jogos Olímpicos estão inseridos neste contexto, sendo que já tive oportunidade de me referir sobre o assunto em outra ocasião.
Estava pensando escrever algo sobre a escolha do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016, mas com muita dificuldade, pois o assunto é longo, complexo, com várias facetas, acabei desistindo pois faltava inspiração, apesar de ter vontade de deixar uma demonstração dos meus sentimentos. Naquele momento era impossível.
No dia seguinte fui ler o jornal da véspera, e o assunto que dominava a edição era sobre os Jogos Olímpicos. Foi aí que eu encontrei o editorial de Rui Nogueira, que em poucas linhas sintetizou tudo aquilo que eu sequer conseguia começar a escrever.
Por estar absolutamente de acordo com todas as palavras, expressões, frases e sentimentos, resolvi transcrever este brilhante texto que é dele, porém por mim adotado, e se tivesse esta capacidade teria junto com ele assinado.

O presidente e o seu “nunca antes neste país”

O governador, o prefeito, os especialistas, os ricos, os "humil­des" e os erros da candidatura de Brasília (em 2000) podem ter trabalhado muito a favor do Rio de Janeiro, mas a conquista da Olimpíada de 2016 para a ci­dade e para o Brasil tem um grande credor: o presidente Luiz lnácio Lula da Silva, "o cara".
Mesmo admitindo-se que a contabilidade dos seus feitos políticos, econômicos e diplomá­ticos está sempre superfatura­da, o Rio, indiscutivelmente, ga­nhou o direito de organizar e ce­lebrar a Olimpíada de 2016 no rastro do "efeito Lula" no cená­rio internacional.
A presença em Copenhague e o discurso de apresentação da candidatura diante do Comitê Olímpico Internacional (COI) configuram um fenômeno políti­co. Esse foi, talvez, o melhor dis­curso do presidente Lula, re­cheado de palavras precisas e destinadas a dar forma e poder de persuasão àquilo que o comi­tê organizador brasileiro se pro­pôs a dizer.
Ontem, o presidente provou que no improviso ele só é engraçado, quase galhofeiro. Trei­nado e contido, mas sem perder a espontaneidade que marca­ram o metalúrgico eleito para o Palácio do Planalto, ele mostrou que é convincente.
As palavras eram solenes, mas ele foi um pedinte altivo e apaixonado. Para uma platéia de gringos a convencer e de olho nos concorrentes a superar, o redator misturou - bem ao gosto do presidente Lula - a classe média "das areias de Copacaba­na" e das "vitrines das lojas de São Paulo" com a população mais pobre dos "pequenos televi­sores às margens da Amazônia".
A estratégica referência à Amazônia foi apenas a primeira de uma série de ícones bem con­tornados e bem usados: "paixão pela vida", "paixão pelo espor­te", "povo misturado", "calor do povo" e "sol da nossa alegria".
Assim, soltas, as expressões parecem formar um polvilho de demagogias.
Seguindo o script traçado pa­ra a ocasião, porém, Lula usou esses degraus para escalar um silogismo cheio de premissas a anteceder a conclusão com o pedido: a hora é dos países emer­gentes, a América do Sul nunca teve uma Olimpíada, "vivemos num clima de liberdade e demo­cracia", 30 milhões de brasilei­ros saíram da pobreza, 21 mi­lhões de brasileiros passaram a integrar a classe média, a econo­mia está organizada, o Brasil saiu bem da crise financeira mundial, o País está entre as maiores economias do mundo e "nunca tivemos a honra" de se­diar a Olimpíada.
Sem chamar de erro as esco­lhas feitas até agora, Lula pediu a "correção do desequilíbrio".
Lembrou que para os concorren­tes do Rio a disputa era por "mais uma" Olimpíada, enquan­to para o Brasil era "uma oportu­nidade sem igual".
E foi assim que lula, finalmen­te, ganhou por inteiro o direito de dizer que "nunca antes neste País" um governo havia conquis­tado o que ele conquistou.

RUI NOGUEIRA
O ESTADO DE SÃO PAULO
CHEFE DA SUCURSAL BRASÍLIA
sábado, 3 de outubro de 2009, ano 130 nº 42354 Caderno especial H2.


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