Por outro lado, a imagem do plano de fundo foi feita pela Curiosity Mars Science Laboratory em 08 de setembro de 2012 no 33º dia após o pouso na superfície de Marte observando-se o solo marciano como jamais foi visto. E também não é bobagem...
Image credit: NASA/JPL-Caltech/MSSS.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Imagem da semana

Capa da Revista da Associação Paulista de Medicina deste mes de julho

Aproveitando-se do excesso de profissionais médicos concentrados em capitais e grandes centros, as operadoras de saúde estão reduzindo os valores dos honorários médicos a tal ponto que fechar as portas dos consultórios e buscar alternativas de trabalho têm sido a única saída para muitos médicos.
Mas este é um problema que não apareceu agora e vem se estabelecendo aos poucos e há muito tempo, como um movimento premeditado, e com objetivos muito claros. inclusive colocando os médicos em conflito com o recém aprovado Código de Ética Médica.
Eu pessoalmente deixei de atender os convênios no Hospital Samaritano de São Paulo (que é acreditado pela Joint Commission International) quando recebi oito reais por uma consulta. Aliás, como no caso em questão tratava-se de um convênio que passava por sérias dificuldades, o valor estipulado foi dividido em quatro parcelas, o que significa dizer que recebi durante quatro meses pagamentos de dois reais, com desconto de 2% de comissão para a Associação Médica do Hospital Samaritano e na época também da CPMF.
Na época, declarei publicamente minha insatisfação declinando do serviço oferecido, denunciei, protestei, clamei, bradei, mas ninguém me ouviu, nem o hospital, nem a Associação dos médicos (que ironicamente existe para tratar dos interesses dos médicos do e no hospital) nem mesmo as entidades de classe, que sempre estão discutindo o assunto, porém sem qualquer resultado prático.
Achei que tínhamos atingido o fundo do poço. Agora vejo que o poço é ainda mais fundo e talvez o estejamos enxergando ainda um fundo falso e poderemos nos afundar um pouco mais.
Mas estes cinco reais agora denunciados, na verdade talvez não estejam tão fora da realidade de remuneração do médico nos dias atuais.
Senão vejamos: o padrão de atendimento preconizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) equivale a 16 consultas/médico, por período de 4 horas. Portanto um médico trabalhando em seu consultório, por período de 4 horas receberá R$ 80,00/dia, que multiplicado por 22 dias úteis corresponde a R$ 1.760,00 por mês, que é praticamente igual ao valor pago a um médico trabalhando 4 horas por dia, no serviço público ou em uma empresa de medicina de grupo. Evidente que sobre este valor recebido em seu consultório incidirão tributos e despesas de manutenção que irão comprometer algo em torno de 40% dos R$ 1.760,00.
É difícil para quem viveu a época do médico profissional liberal, aceitar esta condição de médico operário, que interrompe em passeata a Avenida Paulista para reivindicar aquilo que acha justo, usando da maneira mais inadequada possível, para chamar a atenção das nossas autoridades, criando mais problemas para as pessoas que estão se locomovendo, muitas delas em busca de um médico ou um hospital da região.
Todos estes movimentos nunca levaram e não levarão os médicos a lugar algum.
Nunca vou me esquecer de um dos inúmeros movimentos grevistas do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, em uma audiência com o então governador de São Paulo Sr. Paulo Salim Maluf, foi lhe transmitida a preocupação que se “não atendidas as reivindicações dos médicos, o hospital poderia sofrer por uma demissão coletiva”. Imediatamente o governador retrucou “que me avisem imediatamente, pois em 24 horas eu descarrego de caminhão quantos médicos forem necessários, pois eu conheço muito bem esta turminha e médico procurando emprego, tem em qualquer esquina”.
Evidente que o governador em questão não é uma referencia de padrão, mas o seu pensamento está absolutamente de acordo com o pensamento dos nossos dirigentes, salvo raríssimas exceções, que infelizmente não têm penetração na discussão do âmago da questão.
Triste ter que admitir que o próprio médico tenha responsabilidade por termos chegado a este ponto e a grave exploração do trabalho médico praticada atualmente, inviabilizou a medicina como atividade liberal.
A denúncia em questão está sendo feita por uma destas entidades, que em tempos idos foi legítima representante dos interesses dos médicos, congregando em torno de si todos os grandes nomes da Medicina Paulista desde 1930. Hoje tem um quadro associativo com algo em torno de um terço dos médicos atuantes no estado de São Paulo, e está mais para um clube do que uma verdadeira associação que deveria zelar pela defesa do exercício da profissão médica. Vamos ver o que vai acontecer.
Não pensem que escrevi estas linhas com alegria. Foi difícil, doloroso, quase inacreditável, parecendo uma história mentirosa ou de ficção, gostaria que alguém me convencesse que estou enganado, mas é assim que sinto.
Pobre dos médicos.

7 comentários:

Doutor disse...

Totalmente realista o descrito acima. Imagino que disciplinas como Sindicalismo deveriam ser ministradas obrigatoriamente nas faculdades de Medicina, que inclusive são muitas e inúmeras não visam o ensino mas o imediatismo do retorno financeiro de um curso tão caro; Assim talvez o lado lúdico deixe de vingar entre os estudantes.

Att
Doutor R

Anunciação disse...

Infelizmente você está correto;até gostaria de discordar mas a realidade é essa nua e crua.

Nut. Marcus Ávila disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nut. Marcus Ávila disse...

Colega Leonardo, se vocês que são médicos, uma profissão já concreta no sistema, passam por isto, imagina nós pobres mortais das especialidades do setor de saúde como o meu caso, sou nutricionista.
A pouco tempo os planos de saúde foram obrigados a incluir mais profissionais como nutricionistas, fonoaudiólogos e terapeutas.
Até hoje não tenho coragem de me conveniar a nenhum plano de saúde tamanho o absurdo é o valor oferecido por uma consulta, onde você é obrigado a oferecer o mesmo tempo e os mesmos recursos que oferece em uma consulta particular. Não passa nem perto do valor justo. E o que tenho visto é, cada vez mais profissionais da saúde se desvinculando dos planos de saúde.
Gostei de suas palavras.

Anônimo disse...

Muito bom Leonardo. Parabéns pelas colocações.

Gustavo Bacelar disse...

Excelente texto, muito lúcido. Mas, diferente do que disse o Doutor R, a solução para esse quadro não passa por disciplina de Sindicalismo, mas sim por EMPREENDEDORISMO e GESTÃO. O médico precisa aprender a valorizar o seu trabalho e deixar de querer ser submisso aos planos de saúde e SUS.

Paulo Freire disse...

Os médicos devem ter conhecimento claro que as entidades representativas de sua classe não os representam. Elas servem a elas mesmas, custeadas com nossas mensalidades e anuidades. Vejam o caso do CREMESP, cujos conselheiros pertencem a um partido político de esquerda e estão no poder há mais de 20 anos, alternando-se como presidentes, conselheiros e secretários. Até clubinho de conselheiros funciona na sede, para a alegria de seus beneficiários. Claro, custeado pelos médicos mortais, que recebem estes R$5,00 por consulta. Quanto recebe um conselheiro por mes, para dar um parecer ou estar presente numa reunião? Garanto que é mais de 3.000 consultas de R$5,00 por algumas horas de trabalho por semana. É um ótimo negócio.

Anuidades do CREMESP: os colegas pagam duplamente, pessoa física e pessoa jurídica. Os convênios querem pessoa jurícia, e o CREMESP cobra pelas duas. E a anuidade não tem embasamento jurídico, aliás a própria profissão médica não existe legalmente. Tem tanta coisa errada que se perpetua e os médicos ainda elegem esta gente para defendê-los. Como pode?

Tenho dois mandados de segurança contra o CREMESP, que vegetam na "justiça" há 7 (sete) anos. Quando vou ganhar, apesar da Constituição Brasileira estar a meu favor? Nunca, pois até juízes fazem parte do esquema montado. Juiz Federal que denega mandado de segurança se apoiando em lei ainda não publicada, retroage ação da lei para me punir, quando o mesmo juiz responde por corrupção ativa e passiva na corregedoria do tribunal.

Não acredto em justiça brasileira.