O Mono Lake é pouco conhecido como local turístico apesar de localizado a beira de uma rodovia que corta o estado da Califórnia de norte à sul levando desde o árido deserto da Califórnia até as maravilhosas montanhas onde se pratica o Sky na glamourosa Lake Tahoe, divisa com o estado de Nevada onde por consequência metade da cidade tem o jogo liberado. Mono Lake está situado no nordeste do estado e é um lago do tipo desértico à beira da árida Great Basin (estado de Nevada a leste a Sierra Nevada, a oeste na Califórnia).
A maneira como conheci o Mono Lake também foi muito especial e a minha relação com este lugar é muito peculiar e com uma série de interrogações, por uma atração inexplicável de encanto, sedução e fascínio, inclusive atingindo toda a área do deserto de Nevada e da Califórnia. Este é sem dúvida outro lugar para se conhecer antes de morrer...
Nos idos de 1987, após atravessar o Death Valley, em direção norte pela via 395, deveria estar cruzando a Sierra Nevada, subindo o Tioga Pass para alcançar o Yosemite National Park. Entretanto apesar de ainda primavera, as primeiras nevascas já estavam ocorrendo e a subida do Tioga Pass era um problema, especialmente durante a noite e também porque estava sozinho.
Já anoitecendo cheguei a uma pequena e simpática cidade chamada Lee Vining, bem ao pé da Sierra Nevada e lá resolvi dormir.
No dia seguinte junto com o sol, me pus na estrada e foi aí que vi um maravilhoso e estanho lago na margem direita da estrada que seguia no sentido norte. Resolvi dar uma volta e me deparei com uma imagem esplendorosa, banhada pelo sol nascente, que jamais poderei me esquecer, muito menos descrever.
Em 1999 estive lá novamente e pude com mais calma e informações adequadas entender um pouco melhor a complexidade daquele lugar.
Nesta década por lá passei outras duas vezes.
Não sei bem porque, mas nestas quatro vezes que lá estive, senti uma sensação de estar em um lugar especial, estranho, complexo, sem qualquer outra explicação a não ser pela sua beleza exótica e a mutação de cores que se consegue observar de acordo com a hora do dia e consequente ângulo dos raios do sol.
Entretanto esta mesma sensação me acompanha em alguns outros lugares especialmente da região que vai do Great Basin Plateau, passando pelo Death Valley e o Deserto de Mojave.
Eu tenho alguma dificuldade de explicar aquilo que sempre senti, e se tivesse que expressar de uma forma simples as minhas sensações, diria que “é a sensação de estar em outro mundo”.
Pois é exatamente isto de certa forma que os cientistas estão tentando mostrar que encontraram no Mono Lake, um outro mundo.
Eu não vou entrar em detalhes sobre o assunto em si, pois a quantidade de informações que existem na internet é enorme e eu vou anotar apenas aquilo que eu vi aprendi e senti durante minhas quatro visitas ao Mono Lake.
Quero deixar registrado que há mais de 20 anos este estranho lugar sempre me disse alguma coisa que eu nunca soube e continuo não sabendo exatamente o que é.
Outros tantos lugares que me trazem sensação semelhante poderiam estar aqui enumerados, mas vou deixar pra outro momento.
Mono Lake é um lago salgado, que abrange mais de 70 quilômetros quadrados e suporta um ecossistema único, produtivo e extremamente complexo. O lago não tem peixes, em vez disso é a casa de trilhões de Artemia salina, um tipo de camarão, que crescem no lago, seu ph é alcalino e contém uma quantidade gigantesca de moscas e lavas, que servem de alimento para outros seres da cadeia alimentar. Córregos de água doce alimentam Mono Lake, com exuberantes matas ciliares em suas margens. Ao longo do lago, formações calcárias em forma de torres, muitas “brotando” da superfície da água são conhecidas como “Tufas”. A formação destas Tufas é extremamente complexa, não só na sua composição como também no mecanismo de seu desenvolvimento, que ainda gera muitas dúvidas e debates. Penso ser irresistível deixar de ter em casa um pequeno fragmento destas tufas apesar da proibição e atenção dos “Rangers” no policiamento da região, que é um Patrimônio Nacional.
O lago fica em uma área geologicamente ativa na extremidade norte da Mono Inyo Craters uma cadeia vulcânica localizada perto de Long Valley Caldera com atividade geológica persistente e uma das causas da falha na base da Sierra Nevada, e está associado com o extensão tectônica da Basin and Range Province.
Assim sendo Mono Lake ou Mono Lake Bacia , foi criada por forças geológicas nos últimos cinco milhões de anos, e é uma Bacia de drenagem, que não tem saída para o oceano, o que faz com que os sais dissolvidos na água de enxurrada, permaneçam no lago e elevam o pH da água e os níveis de concentração de sal.
O ecossistema se completa com Milhões de aves migradoras visitam o lago a cada ano e fazem o habitat de nidificação alimentado-se dos camarões.
De 1941 até 1990, o Los Angeles Departamento de Água e Energia começou a desviar quantidades excessivas de água dos córregos da bacia de Mono Lake para atender a demanda crescente de água de Los Angeles. Destituído de suas fontes de água doce, o lago, perdeu metade do seu volume, caiu 45 metros verticais e dobrou sua salinidade.
Incapaz de se adaptar a essas mudanças de condições dentro desse período de tempo, o ecossistema começou a desmoronar. Ilhas, anteriormente importantes para nidificação, tornaram-se penínsulas vulneráveis à predação de mamíferos e répteis. A taxa fotossintética das algas, a base da cadeia alimentar, foram reduzidas, enquanto a capacidade reprodutiva do camarão ficou prejudicada.
Consternado com essa perspectiva, David Gaines formou o The Mono Lake Committee em 1978 e começou a conversar com grupos de conservação ambiental, escolas, organizações de serviços, legisladores, juristas e para quem quisesse ouvir, sobre o valor deste lago deserto. Sob a liderança de Gaines, o Mono Lake Comittee cresceu para 20.000 membros e ganhou reconhecimento jurídico.
Uma década depois, David Gaines e uma equipe de voluntários da Comissão, foram mortos em um acidente automobilístico. Apesar da perda de seu fundador, cidadãos do grupo continuam a liderar a luta para proteger o Mono Lake.
Em 1994, após mais de uma década de litígio, o Controle dos Recursos Hídricos do Estado da Califórnia ordenou ao Department of Water & Power (DWP) que o nível do Mono Lake deveria subir para um nível saudável de 6.392 metros acima do nível do mar ou seja, seis metros acima do seu mínimo histórico. A recuperação está dentro do projetado e você pode conferir o nível atual do lago, clicando aqui.
A grande descoberta anunciada em 02/12/2010 foi um trabalho de uma equipe de investigação que inclui cientistas da Pesquisa Geológica dos EUA, Universidade Estadual do Arizona em Tempe, Arizona, Laboratório Nacional Lawrence Livermore, em Livermore, Califórnia, Duquesne University em Pittsburgh, Pensilvânia. Laboratório da radiação do Synchrotron de Stanford, em Menlo Park, Califórnia.
O Programa de Astrobiologia da Nasa, em Washington contribuiu com o financiamento da investigação através da sua Exobiologia e programa de Biologia Evolutiva.
A equipe optou por explorar o Mono Lake por causa da sua composição química incomum, especialmente a sua alta salinidade, alcalinidade alta e níveis elevados de arsênico.Essa química é em parte um resultado do isolamento do Mono Lake, das suas fontes de água doce por 50 anos.
Os investigadores descobriram o primeiro microorganismo conhecido na Terra capaz de prosperar e reproduzir-se utilizando o arsênico substituindo o fósforo em seus componentes celulares.
Carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre são os seis blocos básicos de construção de todas as formas de vida conhecidas na Terra. O fósforo é parte da espinha dorsal química do DNA e RNA, as estruturas que contêm as instruções genéticas para a vida, e é considerado um elemento essencial para todas as células vivas.
O fósforo é um elemento central da molécula de transporte de energia em todas as células (adenosina trifosfato) e também os fosfolipídios que formam todas as membranas celulares. O arsênico, que é quimicamente similar ao fósforo, é venenoso para a vida na Terra. O Arsênico interrompe vias metabólicas, porque ele se comporta quimicamente semelhante ao fosfato
Wolfe Felisa-Simon, geomicrobiologista da NASA Astrobiology Institute é a principal cientista da equipe de pesquisa.”Se alguma coisa aqui na Terra pode fazer algo tão inesperado, o que mais pode fazer a vida que nós não vimos ainda?”
"A idéia de biochemistries como alternativa para a vida é comum na ficção científica", disse, Carl Pilcher, diretor da NAI, agência Ames Research Center, em Moffett Field, California.
"Até agora, uma forma de vida usando o arsênico como um bloco de construção era apenas teórica, mas agora sabemos que esta vida existe no Mono Lake”.
O micróbio recém-descoberto, chamado GFAJ-1, é membro de um grupo comum de bactéria, a Gammaproteobacteria. No laboratório, os investigadores fizeram crescer com sucesso micróbios do Mono Lake com uma dieta que era muito pobre de fósforo, mas incluía generosas porções de arsênico. Quando os investigadores removeram o fósforo e substituiu-o com arsênico os micróbios continuaram a crescer. Análises posteriores indicaram que o arsênico era utilizado para produzir os blocos de construção de novas células GFAJ-1.
Esse achado muda os conhecimentos fundamentais sobre o que compreende toda a vida conhecida na Terra e irá transformar a investigação em curso em áreas, como a química orgânica, ciclos biogeoquímicos, a mitigação da doença e investigação do sistema Terra, e vão abrir novas fronteiras em microbiologia e muitas outras áreas de pesquisa.
Uma nova composição bioquímica alternativa irá alterar livros de biologia e expandir o escopo da pesquisa para a vida fora da Terra. A pesquisa foi publicada na edição desta semana da revista Science Express.
E eu estive lá...
Assista os vídeos do Mono Lake e veja informações mais detalhadas clicando aqui ou a página da NASA clicando aqui.
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